Baixa representação é vista com preocupação num mundo cada vez mais diverso e inclusivo. Perspectiva é de que tendência mude com o tempo.
O mercado de valores tem crescido significativamente nos últimos anos, tanto em termos de quantidade de investidores quanto em relação aos tipos de investimentos disponíveis e de profissionais especializados na área. Essa expansão é impulsionada por uma maior conscientização sobre a importância de investir para garantir a estabilidade financeira futura, segundo a Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar). A participação feminina na área de assessoria de investimentos, no entanto, ainda é pequena.
Vale lembrar que o papel do assessor de investimentos é de intermediar a relação entre o cliente e as instituições financeiras, auxiliando na seleção de produtos e serviços de investimento que estejam de acordo com o perfil e objetivos do investidor. Com isso, a ideia é maximizar os ganhos e reduzir os riscos para o cliente.
A profissão tem visto um crescimento exponencial nos últimos cinco anos. De acordo com dados da Associação Nacional das Corretoras de Valores (Ancord), o número de profissionais nessa área aumentou mais de cinco vezes, alcançando 17.242 assessores vinculados a corretoras em dezembro de 2024. Contudo, somente 21% do total de profissionais são mulheres.
A baixa representação é vista com preocupação e considerada um problema num mundo cada vez mais diverso e inclusivo, na avaliação do Conselho de Normas de Conduta Financeira. Isso porque as mulheres representam quase metade da força de trabalho global e têm um papel cada vez mais importante nas decisões financeiras das famílias. Embora haja um aumento tímido na participação feminina, em comparação com os 17% registrados em 2017 pela Ancord, espera-se que essa tendência mude com o tempo.
Fatores que influenciam na sub-representação
Conforme os órgãos mencionados, ligados ao universo dos profissionais de investimentos, existem diversas razões pelas quais as mulheres podem estar sub-representadas no setor de assessoria de investimentos. Uma delas é o público feminino ainda enfrentam desigualdades no local de trabalho, incluindo diferenças salariais e falta de oportunidades de promoção. Além disso, a cultura do setor financeiro muitas vezes é percebida como masculina, o que pode afastar as mulheres.
De acordo com o superintendente da Associação Brasileira de Assessoria de Investimentos (ABAI), Francisco Amarante, em entrevista à imprensa, a flexibilidade inerente à profissão de assessoria de investimentos permite que as mulheres se organizem em diversas atividades, incluindo a maternidade. Além disso, ele destaca que as mulheres possuem habilidades de relacionamento que são valiosas para o setor e que há espaço para um aumento da participação feminina, tanto como sócias fundadoras de escritórios quanto como líderes.
A presença feminina na assessoria de investimentos, portanto, é apontada como importante por inúmeras razões. As mulheres podem ter características desejáveis no mercado de valores, incluindo uma abordagem mais holística para as finanças pessoais e uma compreensão mais profunda das necessidades financeiras das mulheres e de outras comunidades sub-representadas.
Além disso, essa atuação na assessoria de investimentos pode ajudar a atrair e reter mais mulheres investidoras, já que uma maior diversidade pode ajudar a garantir que as necessidades de investidores de diferentes origens e perspectivas sejam atendidas.
Perfil de investimento também varia conforme o gênero
De acordo com dados da B3 (Bolsa de Valores brasileira), há mais de 1,39 milhão de mulheres cadastradas como investidoras, o que pode parecer um número grande à primeira vista. No entanto, essa quantidade representa apenas 22,89% do universo de pessoas físicas, enquanto os homens representam 77,11%.
Além disso, conforme apontado em artigo do portal Valor Investe, estudos mostram que o perfil de investimento varia entre os gêneros, com as mulheres investindo menos em opções arriscadas, como fundos de investimento, moedas digitais e ações na bolsa de valores. Isso evidencia que a desigualdade de gênero no mercado financeiro é uma consequência da desigualdade existente fora dele.
Assim, há uma relação entre a baixa participação de mulheres como assessoras de investimentos e como investidoras. Uma delas é mostrada por pesquisa realizada pela consultoria Boston Consulting Group em parceria com a B3 que revelou que a falta de representatividade feminina é um dos principais motivos para a baixa participação das mulheres no mercado financeiro.
Quando há menos mulheres atuando como assessoras de investimentos, isso pode refletir em menos mulheres sendo expostas ao mercado financeiro e à possibilidade de investir. Além disso, a falta de representatividade feminina na área pode afetar a confiança das mulheres em relação ao setor, o que resulta em menos mulheres investindo. Por outro lado, se mais mulheres ocuparem posições de destaque como assessoras de investimentos, isso pode incentivar mais mulheres a se interessarem pelo mercado financeiro e a investir.